Esse artigo será mais um desabafo do que uma análise fria, objetiva e impessoal do que foi a 3ª temporada de Alice in Borderland, uma série original da Netflix. Então, antes de prosseguir, esteja avisado de que você encontrará spoilers pontuais acerca desta temporada.
Contudo, antes de fato, começar a tecer críticas sobre o que foi essa sequência, devo dizer que ela não é de todo ruim. Alguns elementos salvaram a série, como novos personagens e suas histórias. Aliás, no que tange aos personagens e seus desenvolvimentos, esse sempre foi um ponto alto de Alice in Borderland.
A série sempre trabalhou muito bem o elemento sentimental, fazendo-nos criar ligações com personagens ao longo da trajetória e nos emocionarmos com eles. Às vezes, até arrisco dizer que os jogos, por mais interessantes que fossem, ficavam em segundo plano, enquanto o que realmente importava era como os personagens iam se comportar.
Mas, então, o que aconteceu nesta 3ª temporada de Alice in Borderland?
Uma das melhores personagens tornou-se detestável
Usagi, uma das personagens que eu mais gostava de acompanhar entre a primeira e a segunda temporada, sempre teve um crescimento bastante interessante. Ela, inclusive, foi a principal responsável por Arisu encontrar forças e se reerguer em meio aos destroços deixados pelos jogos.
Se fosse para resumir Usagi em poucas palavras, seriam: forte, resiliente e determinada. Contudo, o grande problema desta 3ª temporada de Alice in Borderland está justamente no fato de os roteiristas terem quebrado completamente esses valores estabelecidos da personagem. Aqui, nesta sequência, encontramos uma Usagi melancólica por conta de sua relação mal resolvida com o pai morto.
Fica claro que esta temporada é quase um arco dedicado à personagem. E antes que digam que fez sentido, já que ela sempre lembrava do pai e, de fato, era algo pendente, tudo foi muito mal executado, apresentando uma Usagi como uma donzela indefesa e pouco inteligente em boa parte da trama.
Aquele que salvou a temporada
Sem sombra de dúvidas, Arisu foi um dos grandes destaques, muito por ser o protagonista e boa parte do mistério girar em torno dele. Contudo, o aspecto que mais chama a atenção de quem assistiu a essa temporada é o fato de ele estar completamente mudado. Aqui, ele está casado com Usagi e esperando um filho (algo que só é revelado nos últimos episódios).
Esse novo visual e o modo como ele se comporta dão a ele quase que uma nova identidade, uma versão mais madura e compenetrada, muito diferente de quem era nas duas primeiras temporadas. Um retrato de como a experiência de quase morte moldou quem ele se tornou.
Em muitos momentos, enquanto participava dos jogos, ele assumiu a figura de líder, em quem todos depositavam suas esperanças. Serviu de apoio e norte para seus companheiros. Ademais, no último episódio, aceita carregar o fardo da equipe e se dispõe a se sacrificar pelo bem de todos. De longe, uma das maiores performances do protagonista.
Mais segredos de Borderland e o final aberto
Durante as duas primeiras temporadas, a grande incógnita era: “O que é esse mundo?”. Isso perdurou até o final da segunda temporada, quando obtivemos uma resposta. Entretanto, ainda restava uma carta: o coringa. Eis que chegamos, então, a esta temporada. Porém, o grande mistério de descobrir quem de fato era o coringa foi decepcionante e pouco convincente.
Sem revelar spoilers dessa parte, o que fica como conclusão é algo bem mais subjetivo e filosófico, o que pode não agradar a todos. Além disso, Borderland passa a ser um mundo onde, aparentemente, determinadas pessoas conseguem viajar entre planos.
Deixa de ser aquela espécie de experiência catártica que foi apresentada e passa a ser um elemento mais acessível, onde todos podem ir se quiserem, desde que cumpram alguns requisitos. É como se mais uma ideia já estabelecida caísse por terra. Talvez tenha sido uma tentativa de expansão do conceito. Pode funcionar para alguns, para outros, não.
Os caras são muito capitalistas, não tem jeito. Se você assistiu à última temporada de Round 6, talvez consiga fazer um paralelo e compreender o meu ponto. Até onde li, na época, a ideia de Round 6 era ter apenas uma temporada. Contudo, tivemos uma segunda e, subsequentemente, ideias de spin-offs. Se está dando lucro, para quê parar?!
A última cena da 3ª temporada de Alice in Borderland é basicamente um enorme cliffhanger para mais uma nova temporada. Me disseram que a ideia era finalizar na segunda. Pois bem, tivemos uma terceira e, possivelmente, teremos uma quarta. Todavia, nada ainda foi confirmado pela dona Netflix.
Vale a pena assistir à 3ª temporada de Alice in Borderland?
Exposto tudo isso, a resposta para a pergunta “vale a pena assistir?” é sim. Apesar dos pesares, a “última” temporada possui muitos momentos emocionantes. Poderia citar marcantes, mas acho que não chega a tanto.
Todavia, se você assistiu às duas temporadas anteriores e gostou, esta aqui também funcionará com você, de um jeito diferente, mas que também fará com que você sinta algo.
Os jogos, principalmente, farão você se sentir inquieto e ansioso, prendendo a respiração de maneira inconsciente. Nesse quesito, ponto positivo para a temporada, que consegue cativar e manter a atenção do público, mesmo sendo aquele famoso “mais do mesmo”.
Em síntese, a 3ª temporada foi um potencial desperdiçado. Para falar a verdade, nem sei se era necessária. Como disse, reiterando: os caras são muito capitalistas. Mas, já que ela existe e está entre nós, nos cabe assistir e decidir se é boa ou ruim. Uma coisa é certa: independentemente de tudo, a 3ª temporada de Alice in Borderland ainda te fará sentir alguma coisa.
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